A fundação de São Roque

Em 1948, com os dois conventos do Rio e de São Paulo definitivamente instalados e gerando grandes frutos – o convento do Rio de Janeiro, em especial tem uma grande irradiação neste tempo, pela grande devoção que o povo brasileiro tem a Santa Teresinha -, os frades começam a pensar em uma obra que pudesse acolher as vocações para o Carmelo Descalço. Trata-se de um passo que toda missão deve dar. Já, neste tempo, surgiam vocações para o Carmelo. Era preciso, porém, uma casa adaptada para acolher meninos e jovens que fossem, desde a mais tenra idade, introduzidos no estilo de vida carmelitano.

Todos os testemunhos nos dão conta de que fora frei Alberto de Santa Teresa quem assumiu com todo o coração esta idéia que, com certeza, surgira na alma de mais de um frade. Fora ele que tomou a iniciativa para concretizar o sonho de um seminário menor para o vicariato brasileiro da Província Romana.

É difícil recompor todos os passos que frei Alberto teve que dar até o início da construção do convento em São Roque. O que se pode é nomear as etapas: pedido de permissão e aprovação ao Capítulo Provincial da construção do convento, depois de estabelecer os objetivos e a urgência de uma obra para a formação inicial e acolhida das vocações juvenis; escolha do local, desenho da planta, custos, fontes de renda e tempo da obra.

O porquê da cidade de São Roque ter sido a escolhida para a instauração da casa pode ter que ficar para sempre escondido para nós. Podemos presumir que as condições culturais da cidade, formada por imigrantes italianos que trouxeram para cá suas tradições, pode ter influenciado na escolha. Segundo frei Raul o que determinou em frei Alberto a procura de um terreno ideal foi a abundância de água, a proximidade de uma estrada e de uma linha de trem. No terreno escolhido em São Roque as três condições se encontraram. Além disso o seminário arquidiocesano de São Paulo ficava nas redondezas.

Com a aprovação do projeto por parte do Capítulo Provincial e da compra do terreno e instauração dos frades na cidade, além da aprovação de assumirem a Paróquia, dá-se andamento às coisas.

A escritura do terreno em nome da Ordem Carmelitana data de 19 de março de 1948, e traz o preço de Cr$70.000 (setenta mil cruzeiros). Segundo alguns testemunhos grande parte do dinheiro para a compra do terreno fora doado por frei Paulo Maria, mineiro de Nova Serrana, que havia ingressado no Carmelo Descalço, fora pároco em São Roque por um ano, e, tendo passado para o convento de São Paulo, aí permaneceu até sua morte. O terreno, de cerca de 10 alqueires, abrigava, na época, 3 casas em péssimo estado. Tudo, portanto, estava por ser feito.

Com o terreno comprado os frades chegam a São Roque, em finais de 1948. Habitam a casa paroquial no centro da cidade e acompanham as obras que já se iniciam. A primeira comunidade era formada pelos frades Frei Alberto de Santa Teresa, superior, Frei Anselmo do Carmo (vigário), Frei Paulo Maria do Carmo (1º conselheiro), Frei Telésforo do Menino Jesus (2º conselheiro) e Frei João Batista de São José, um irmão leigo.

No projeto inicial constava a construção da casa para abrigar o seminário e um grande santuário do lado direito do convento. O Santuário não chegou a ser construído. O trabalho de engenharia foi dirigido por um engenheiro alemão, amigo de frei Venâncio.

Em 1949, com alguns fundamentos já preparados, foi colocada a pedra fundamental, com grande fluxo da população local que tão boa acolhida deu aos carmelitas.

Frei Alberto foi incansável na construção do convento: contatou todos os que podia – monjas de Piracicaba, de Cotia, leigos do Rio e de São Paulo, homens influentes, e gente do povo que, em mutirão, ajudava na elevação da casa, enquanto as mulheres da Ordem Terceira, fundada logo nos primeiros anos da presença dos carmelitas na cidade, ofereciam refeições diárias para os trabalhadores. Para angariar fundos para a obra iniciou-se uma grande campanha, com destaque para uma rifa de um carro ganhado por frei Alberto no Rio de Janeiro. O ganhador foi o próprio frei Alberto.

Dizem que seus dotes para a administração também colaboraram para que a obra fosse rápida, conseguindo os melhores preços e as melhores condições. Também com estas realidades mundanas Santa Madre Teresa teve que se envolver em suas fundações, com a perspicácia conhecida de todos. Um fato interessante da construção são os tijolos, feitos no próprio local, com barro tirado do terreno. A olaria construiu-se num campo aberto atrás do local da construção e o barro era tirado do pântano. No local formou-se depois um lago, com a abundante água que verte incessante no local. Os tijolos traziam a marca: OCD.

Ao Pe. Alberto frei Ludovico escreveu estes versos (02 de setembro de 1958), já no tempo de plena atividade do seminário, recordando a elevação do convento, como um sonho que se torna realidade:

” Quante volte, per grazia del Signore,
Ci radunammo intorno ao P. Alberto
Manifestando gl’impedi del cuore
Armonizzati come um gran concerto!
Tutti ci demmo e sempre e com amore:
A valicar gli abissi, il passo incerto
Movemmo, tra gli affanni e nel calore
Per raccogliere i fiori nel deserto…
Fiori di sogno! Allor tutto era incolto!
Però quel che sognammo era un convento
E pel Carmelo nostro un bel raccolto
Ora chi guarda il bianco Monumento
Si sente immerso nel sorriso il volto
E porge al P. Alberto un complimento. ”

 

Tradução

 

“Quantas vezes, por graça do Senhor,

Nos reunimos ao redor do frei Alberto

Dando vazão aos ímpetos do coração

Harmonizados num grande concerto!

Todos nos doamos e sempre e com amor:

A transpor abismos, o passo incerto

Movemos, entre as preocupações e no calor

Para recolher as flores no deserto…

Flores de sonho! Então tudo era inculto!

Mas o que sonhamos era um convento

E para o Carmelo nosso abundante messe

Agora que olha o branco monumento

Sente-se imerso no sorriso o rosto

E dá ao frei Alberto os parabéns.”

 

Por ocasião da celebração do aniversário de frei Alberto, em 1958, os seminaristas e noviços, entre outras coisas, dixaram registrado estas linhas: “exaltemos o nosso querido Padre Superior, revelando seu coraão todo paternal, seu coração incançável; seu coração que palpita de carinho e zelo para cada um de nós. Confirmem este nosso louvor as suas múltiplas atividades que revelam visivelmente a pujança de sua paternidade amorosa. Semelhante a Jesus, cujo coração é um braseiro inapagável, a chama que irradia da sua obra nos conta as insônias, as fadigas e os suores que toma sobre si para não deixar de exercer, com brilho não comum, as suas funções paternas. É um coração vigilante que providencia com solicitude admirável os meios de vida para os seus numerosos filhos.

Eis uma das notas mais características do nosso estimado superior: a providência o constituiu pai de uma numerosa e variada família. Para a vida destes variados membros, são necessárias várias espécies de sustento. Eis o pai cujo coração generoso trabalha para a todos fornecer o alimento comum; ei-lo que se esgota para dar a uma classe de filhos o pão da ciência e a outra, o pão da santidade no estado religioso.”

A elevação da primeira parte da casa dura de 1949 até 1953. Durante este tempo a obra não consome o vigor dos frades. O apostolado paroquial exige muito deles, não só no atendimento à população de São Roque, mas às muitas comunidades rurais formadas e que, com o tempo, iam sendo constituídas.

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